Este artigo analisa a relação entre demanda agregada e geração de empregos, desafiando a visão convencional que atribui aos empresários, frequentemente associados à classe burguesa, o papel central na criação de oportunidades laborais. Argumenta-se que a demanda efetiva é o principal motor do crescimento econômico e da absorção de mão de obra, enquanto o papel dos empresários é condicionado por fatores estruturais e institucionais. Com base em uma revisão teórica fundamentada em perspectivas keynesianas e em evidências empíricas, o estudo demonstra que políticas voltadas para o estímulo da demanda agregada, como investimentos públicos e redistribuição de renda, são mais eficazes na geração de empregos do que iniciativas centradas exclusivamente na acumulação de capital privado.
A narrativa dominante em muitos círculos econômicos atribui aos empresários, frequentemente associados à figura do "burguês" na terminologia marxista, o papel de protagonistas na criação de empregos. Tal visão enfatiza a iniciativa individual, a inovação e a acumulação de capital como forças motrizes do mercado de trabalho. Contudo, essa perspectiva negligencia o papel fundamental da demanda agregada na determinação do nível de atividade econômica e, consequentemente, na geração de empregos. Este artigo propõe uma reavaliação crítica dessa narrativa, sustentando que a demanda efetiva é o principal determinante da criação de empregos, enquanto os empresários operam em um contexto condicionado por forças macroeconômicas.
A análise aqui apresentada fundamenta-se na teoria keynesiana, que destaca a centralidade da demanda agregada no crescimento econômico, complementada por perspectivas estruturalistas que consideram as dinâmicas de desigualdade e poder no sistema capitalista. A metodologia combina revisão teórica e análise de estudos empíricos, com o objetivo de oferecer uma visão rigorosa e baseada em evidências sobre os determinantes do emprego.
John Maynard Keynes, em sua obra seminal Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), argumentou que o nível de emprego em uma economia é determinado pela demanda agregada, composta por consumo, investimento, gastos governamentais e exportações líquidas. Segundo Keynes, em períodos de baixa demanda, os empresários não têm incentivos para expandir a produção ou contratar novos trabalhadores, independentemente de sua capacidade de investimento. Essa visão contrasta com a teoria clássica, que presume que a oferta cria sua própria demanda (Lei de Say).
Estudos contemporâneos corroboram a relevância da demanda agregada. Por exemplo, Stockhammer e Onaran (2013) demonstram que economias com maior estímulo à demanda, seja por meio de políticas fiscais expansionistas ou redistribuição de renda, apresentam taxas de desemprego consistentemente mais baixas [1].
A visão que exalta o empresário como motor do crescimento econômico frequentemente ignora as restrições impostas pela estrutura econômica e pelas relações de poder. Segundo Kalecki (1943), os lucros empresariais dependem diretamente do nível de gastos na economia, que é impulsionado pela demanda agregada. Assim, o empresário não é um agente autônomo, mas um ator que responde às condições macroeconômicas [2].
Além disso, a acumulação de capital por parte dos empresários, frequentemente associada à classe burguesa, pode exacerbar desigualdades, reduzindo a propensão ao consumo e, consequentemente, a demanda agregada. Piketty (2014) argumenta que a concentração de riqueza reduz o dinamismo econômico, pois os mais ricos tendem a poupar uma proporção maior de sua renda, o que limita o consumo e, por extensão, a geração de empregos [3].
Estudos empíricos reforçam a centralidade da demanda na geração de empregos. Um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI, 2018) analisou o impacto de políticas fiscais expansionistas em economias desenvolvidas e emergentes, constatando que aumentos nos gastos públicos geram um efeito multiplicador significativo no emprego, especialmente em setores intensivos em mão de obra [4].
No contexto brasileiro, dados do IBGE (2023) mostram que períodos de maior crescimento do PIB, impulsionados por políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, resultaram em quedas expressivas nas taxas de desemprego [5]. Por outro lado, políticas de austeridade fiscal, que priorizam a redução do déficit público em detrimento do estímulo à demanda, frequentemente levam à estagnação econômica e ao aumento do desemprego, como observado na Europa durante a crise da dívida soberana (2010-2015).
A ênfase no papel dos empresários como criadores de empregos desconsidera que suas decisões de investimento são amplamente condicionadas pela expectativa de vendas, que, por sua vez, depende da demanda agregada. Em economias com alta desigualdade, como o Brasil, a concentração de renda reduz a demanda efetiva, limitando a capacidade das empresas de expandir a produção e contratar trabalhadores. Nesse sentido, políticas públicas que promovem a redistribuição de renda e o investimento público são mais eficazes na geração de empregos do que incentivos fiscais voltados exclusivamente para o setor privado.
Além disso, a idealização do empresário ignora as dinâmicas de classe inerentes ao sistema capitalista. A acumulação de capital por parte da burguesia, como descrito por Marx, frequentemente ocorre às custas da exploração do trabalho, o que pode gerar tensões sociais e limitar o crescimento inclusivo. Assim, a geração de empregos sustentáveis requer políticas que priorizem a demanda agregada e promovam uma distribuição mais equitativa dos frutos do crescimento econômico.
Este artigo argumenta que a demanda agregada é o principal motor da geração de empregos, enquanto o papel dos empresários, frequentemente associados à classe burguesa, é secundário e condicionado por fatores macroeconômicos. Políticas públicas voltadas para o estímulo da demanda, como investimentos governamentais e redistribuição de renda, são mais eficazes na redução do desemprego do que iniciativas centradas exclusivamente na acumulação de capital privado. A análise sugere a necessidade de uma reorientação das políticas econômicas, com maior foco na promoção da demanda efetiva e na redução das desigualdades estruturais.